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Seu pet pode ser muito mais do que apenas um animal de estimação



A Intervenção Assistida por Animais (IAA) é um tipo de tratamento no qual os animais auxiliam os humanos. Isso envolve áreas como psicologia, fisioterapia, educação, entre outras. O método está chegando aos poucos no Brasil. Uma pesquisa realizada pela Revista Brasileira de Zoociências (vol.16/2015), nos municípios de Niterói e do Rio de Janeiro, entre maio e junho de 2013, questionou 200 voluntários sobre a temática. Dos vínculos que os participantes consideraram possíveis de serem estabelecidos pela interação entre o ser humano e outros animais, a opção carinho foi a mais relevante (96,5%), seguida por bem-estar psicológico (85,5%), diminuição do estresse (79,5%), bom humor (78%), distração ou pausa para os problemas (77%), motivação (67,5%), responsabilidade (65%), relaxamento (62%), diminuição da ansiedade (61%) e bem-estar físico (59%).

A prática da Terapia Assistida por Animais (TAA) era desconhecida por 59,5% dos entrevistados. No entanto, 72,5% acreditavam que seus efeitos para os assistidos devem ser benéficos. O animal considerado o melhor mascote para a TAA foi o cão, indicado por 83,5% das pessoas, seguido pelo gato (38,5%), coelho (25%), pássaro (22,5%), cavalo (22%), hamster (20,5%), porquinho da índia (19,5%), peixe (19%), golfinho (4%), mini porco (2%), tartaruga (1,5%), chinchila, furão e cabrito (1%) e macaco ‘pequeno’, papagaio, pato e aves que não voam (0,5%).

Para um animal fazer parte deste processo de terapia, é necessário um preparo com ele e com a família, para que estejam familiarizados e prontos nas sessões, como também para situações de risco. Em publicação em seu site, a ONG "Patas Therapeutas", que atua na defesa desta prática, afirma que a idéia de usar o animal como parte da terapia surge como um catalisador, que modifica o ambiente e o cotidiano do tratamento. A Organização Não-Governamental ainda afirma que "isto ocorre porque as pessoas projetam no animal, principalmente no cão, seus sentimentos. 'Percebem' que o animal é tão vulnerável quanto elas. Este processo chama-se identificação projetiva, ou seja, se identificam com o bicho, onde este passa a ajudar na recuperação, tornando-se a força motivadora que melhora o tratamento.”

(O cão terapeuta Angus e a psicóloga Tatiane Seixas. Reprodução)

Ainda sobre escolha dos animais, a psicóloga Tatiane Seixas informa que os cães (espécie com a qual trabalha) são selecionados ainda quando filhotes, analisando o perfil dos pais, comportamentos, interação com outros filhotes e algumas respostas a estímulos, além de testes específicos após a primeira triagem. Já com os adultos, são realizados testes de sensibilidades, observação de comportamentos e interação. A psicóloga ainda menciona que a escolha não é pela raça e sim pelo perfil comportamental do cão e que cachorros sem raça definida (os populares vira-latas) também podem atuar no processo de intervenções assistidas.

De acordo com Tatiane Seixas, os benefícios da inclusão da TAA nos processos terapêuticos são diversos. "No contexto da psicologia, o cachorro por si só já tem uma representação social de companheirismo e fidelidade, o que mexe com as representações mentais dos pacientes. Em situações corriqueiras da clínica em que solicitamos algo ao paciente por uma “escolha” do cachorro, vemos que o paciente tende a se esforçar mais para cumprir a solicitação porque é um “pedido” do cachorro, o amigo que está ali disponível para estar com ele", conta. A profissional também afirma que as terapias com animais geram melhoras significativas nos processos de cura dos pacientes. "O paciente apresenta resultados mais rápidos, já que a inclusão do animal torna o processo mais dinâmico e causa sensações de bem estar. Quando o paciente está feliz e satisfeito numa intervenção terapêutica, eles apresentam mais motivação, e são mais participativos. Sem contar que o contato com o animal desconstrói a ideia de uma sessão e passa a ideia de uma grande brincadeira", explica.

Os profissionais da área costumam dizer que existem dois tipos de intervenções: as formais, que são processos de intervenções onde a inclusão do animal envolve um planejamento - com objetivos específicos a serem alcançados - e que são realizadas por profissionais especializados. Dentre os exemplos estão a Terapia Assistida com Animais (TAA), onde há a inclusão do animal para ganhos em saúde, e a Educação Assistida com Animais (EAA), onde o animal é inserido no tratamento visando ganhos em educação. Já a intervenção informal envolve as Atividades Assistidas com Animais (AAA), que são visitações sem fins específicos ou planejamento prévio. O propósito é gerar motivação e interação social, sem a obrigatoriedade da presença de um profissional da saúde ou educação. Esse processo costuma ser feito por voluntários.


(Angus, cão terapeuta. Reprodução)

As intervenções com animais também podem melhorar a relação entre o terapeuta e os pacientes, conta Tatiane Seixas. " É uma diferença visível em termos de humor e satisfação. Pessoas que gostam de animais, quando em contato com eles, demonstram satisfação por meio dos relatos e do humor. E isso também cria uma relação mais próxima entre o terapeuta e o paciente. Noto que nas sessões com Angus (cão terapeuta), pacientes meus mais introspectivos tendem a apresentar-se muito mais descontraídos, comunicativos e abertos à interação comigo", diz a psicóloga. Apesar da beleza que muitos enxergam nesse tipo de tratamento, a profissional faz um alerta: "e lindo, mas também é muito delicado, porque o encantamento e o que parece mágica não podem deixar de lado a responsabilidade e o compromisso da terapêutica do paciente. É preciso lembrar que a TAA é apenas uma técnica complementar. Ela nunca irá substituir uma intervenção profissional".

Fontes:
Revista Brasileira de Zoociências 16: 85 - 92. 2014/2015 (https://periodicos.ufjf.br)
Patas Therapeutas (http://patastherapeutas.org/)
Tatiane Seixas, psicóloga. (@tatianeseixaspsicologa)

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